segunda-feira, 26 de outubro de 2015

QUEM ME LEVARÁ SOU EU... QUEM REGRESSARÁ SOU EU...


"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia...
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista logo se acostuma a não olhar pra fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração." O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia" da escritora Marina Colasanti.- Editora Rocco, 1996.
Utilizei esse texto para exemplificar o quanto nós não devemos nos acostumar com o pior da situação e enxergar esse "monstro" com um olhar diferenciado. Com a Doença de Parkinson não é diferente, e como parkinsoniano que sou, deixo aqui registrada toda uma odisséia, desde o diagnóstico até o momento em que decidi fazer a cirurgia DBS.
Como qualquer ser humano, ao receber o diagnóstico de parkinson, me perguntava, não porque eu, mas porque agora (estava num momento que decolava minha carreira de Consultor em Gestão Administrativa), diante do que considerava "minha dor", descobri que de nada adiantava ficar parado, reclamando da vida, mas deveria saber tudo o que pudesse sobre a doença para equilibrar as ações na minha vida. Nas idas e vindas conheci a ASP/PE, mudei de Fonoaudióloga, mudei de neurologista, e também mudei de psicóloga. O que essas pessoas tem em comum? Em algum momento elas me disseram uma palavra mágica:"Não vou desistir de você!!!!" Isso era tudo que eu precisava ouvir pra não enveredar pelo caminho da anulação, do desânimo, enfim, da depressão. Ora, se essas pessoas acreditavam na minha capacidade de resiliência, porque eu mesmo iria duvidar???
A minha cirurgia de DBS foi um capítulo à parte: Dr. Igor Bruscky (Neuro do SUS), me perguntou: Você pensa em fazer a cirurgia pra implantar um eletrodo? 
Penso sim senhor!?! - respondi meio duvidoso.
Então procure o Dr. Francisco Neuton no Hospital da Restauração, vou lhe encaminhar. - e assim procedeu.
Chegando ao HR, completamente arisco e com um monte de dúvidas, apresentei o documento. O médico fez alguns testes e concluiu: O senhor é um forte candidato à cirurgia! - nessa altura eu não sabia se era pra rir ou chorar.
Algumas coincidências me levaram a acreditar que estava no caminho certo:
1) Encontrei uma pessoa da ASP/PE, que havia passado pela mesma cirurgia há poucos dias e, de não conseguir andar, agora carregava o seu equipamento (anda já) no ombro;
2) O médico era especialista nessa cirurgia pela USP (Universidade de São Paulo);
3) Encontrou com minha Neuro (Dra. Janaína), e sem saber que estavam falando da mesma pessoa (Eu), comentaram que tinham um paciente em boas condições para a cirurgia;
4) Partindo pro campo subjetivo, o médico tinha o meu sobrenome: Oliveira;
5) Lecionava aqui em Recife e morava em João Pessoa, onde parte da minha família também mora;
6) O meu medo de algo errado era menor que a minha vontade de ficar bem;
Todos os caminhos levavam à mesma conclusão: Cirurgia agora!!!!
A minha esposa temeu por ter me incentivado a fazer o procedimento cirúrgico, mas eu exclamei: Relaxa! Quem me levará sou eu...., quem regressará sou eu..., se eu acordar, DEUS estará comigo, mas se não acordar, eu estarei com ELE. E assim pensando deu tudo certo!