PRA NÃO
DIZER QUE EU NÃO FALEI DAS FONOS
Esse título é um trocadilho da música “Pra não dizer
que eu não falei das flores” - de Geraldo Vandré, mas foi assim mesmo que
aconteceu... Explico:
Depois de ter consultado 5 (é isso mesmo: cinco)
neurologistas diferentes, acabei por aceitar o diagnóstico da Doença de
Parkinson (DP para os íntimos). Naquela época eu já estava com o braço e a mão
esquerda comprometidos, como também minha articulação da fala (parecia um filme
em slow motion), eu sabia a palavra mas a articulação ficava emperrada na hora
de pronunciar. Tinha duas opções: 1) Ficar me lamentando pelos cantos; 2) Ir à
luta pra tentar uma melhora.É óbvio que preferi a segunda opção, tanto que
escrevi em uma antiga agenda: Eu posso
deixar de andar, eu posso deixar de falar, mas nunca deixarei de sonhar!
E como sonho é de graça, fui procurar terapia com uma
fonoaudióloga, pois como diz a letra da música já citada: “vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não
espera acontecer”. Agindo assim encontrei no convênio médico que tinha na
época a primeira fono: Ana Maria, uma jovem senhora de olhos azuis escondidos
por um grande óculos de grau, fisionomia simpática e fala suave. Expliquei meu
problema e ela respondeu que nunca havia recebido um paciente com DP, e que nós
iríamos aprender juntos. Realmente a palavra aprender nunca foi tão bem
aplicada, pois eu tinha que aprender o que eu fazia com naturalidade antes, que
era falar, enquanto ela tinha de aprender uma nova situação por ter um paciente
sem histórico de AVC (Acidente Vascular Cerebral), mas com uma deficiência
neurológica.
No começo foi engraçado todas aquelas caretas, mas o tempo foi passando e eu não via grandes progressos na minha situação. Aí me lembrei da música de Vandré e voltei a procurar alternativas, foi quando li sobre o método Lee Silvermann em um trabalho publicado na internet, fiquei curioso e cheguei a trocar e-mails com uma fono que clinicava em São Paulo e conhecia o método.
No começo foi engraçado todas aquelas caretas, mas o tempo foi passando e eu não via grandes progressos na minha situação. Aí me lembrei da música de Vandré e voltei a procurar alternativas, foi quando li sobre o método Lee Silvermann em um trabalho publicado na internet, fiquei curioso e cheguei a trocar e-mails com uma fono que clinicava em São Paulo e conhecia o método.
Coincidentemente
ao conversar sobre o método com minha sobrinha Adriana, ela lembrou que na
UNICAP onde ela havia se formado em contábeis, havia uma clínica escola de
fonoaudiologia e o atendimento era a preços bem abaixo das consultas. Como não
tinha nada a perder, fui em busca de esclarecimentos.
Quando
entrei na sala da clínica de fono, parecia que meu coração ia saltar pela boca
e que eu não conseguiria dizer uma só palavra. A secretária que me atendeu
depois de marcar as outras consultas, porquê eu não queria pagar mico na frente
de outros pacientes, era uma senhora bem simpática que me ouviu pacientemente
perguntar se no departamento conheciam sobre o Lee Silvermann. Ela me respondeu
com sinceridade desconhecer tal método, mas que eu aguardasse ela falar com a Professora
Conceição que estava em uma reunião.
Pensei comigo mesmo: - Perdi o meu tempo! Mas aguardei
pacientemente. Quando o telefone tocou, a senhora simpática atendeu e ao
desligar, me informou que a professora Conceição estava me aguardando no Bloco
G da Universidade, em frente à agência Bancária da Universidade. Chegando lá,
fiquei procurando a mesma, pois não a conhecia, foi quando uma jovem senhora
alta, de cabelos meio ruivos e olhar amigável perguntou educadamente:
- Você é Gilberto que está me procurando?
- Ééé ssssim!!! Consegui lentamente gagueijar.- Eeeu teeenho Parkinson, estou prooocurando informaaação sobre o traaatamento chamado método Lee Silvermann, balbuciei meio constrangido.
- Olha Gilberto, eu conheço o método! – respondeu ela – mas não trabalho com ele aqui porquê não fiz o curso específico pra qualificação.
- Mas temos outros métodos bons, finalizou.
- Temos também uma turma de pacientes com Parkinson,
inclusive estou indo pra lá agora, gostaria de conhecer melhor???
Caríssimo leitor, confesso que diante da proposta de
ver pessoas iguais a mim ou pior do que eu, me aterrorizava, porque até então, minhas únicas referências desta
doença eram o Papa João Paulo, o lutador Muhamed Ali e o ator Michael J. Fox, ou
seja, só pela TV. Mas algo me dizia que deveria aceitar e encarar o desafio,
foi o que fiz e garanto, a opção foi a mais acertada!!
Subimos
pelo elevador e adentramos à sala onde algumas pessoas já estavam participando
como terapeutas, voluntários ou pacientes.
- Olá pessoal! – exclamou a Dra. Conceição – esse é
Gilberto, ele tem 48 anos e tem Parkinson desde os 45, concluiu me
apresentando.
- Tão novo! – indagou uma senhora de olhar carinhoso.
- Gilberto, essa senhora é D. Terezinha Veloso, esposa
do Presidente da Associação de Parkinson de Pernambuco, Sr. José Veloso – informou
a Dra. Conceição, virando-se para a mesma e pronunciando a seguinte frase:
- Esse caso eu quero acompanhar!
Nessa
hora me veio outro pensamento: - Tô lascado! Minha situação é mais delicada do
que eu pensava!
Os dias
foram passando, os encontros às terças feiras se tornaram frequentes e a minha
visão distorcida foi se aproximando da verdadeira condição do grupo. Marquei
consultas semanais com Conceição, agora bem mais à vontade, embora percebendo
nela uma exigência e uma cobrança pra me tirar do comodismo e da conformidade
do meu quadro. Aprendi com ela que eu podia ir bem mais longe evitando a
progressão da doença. Aprendi também com outras fonos (Angélica e Flávia – minha
sobrinha), que o caminho era esse mesmo.
Na
data presente do agora eu não deixei de andar, melhorei a minha articulação da
fala e sobretudo, ainda alimento sonhos de chegar a progredir da minha atual
condição. Por isso eu agradeço à Conceição por não desistir, quando eu mesmo já
duvidava da minha capacidade.
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